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Crítica

Ouvimos: Taxidermia, “Vera Cruz Island”

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Ouvimos: Taxidermia, "Vera Cruz Island"
  • Vera Cruz Island é o primeiro álbum do Taxidermia, dupla formada por Jadsa e João Milet Meirelles, que já havia lançado alguns singles e dois EPs. O trabalho em dupla se estendeu para outros projetos: João produziu o álbum de Jadsa, Olho de vidro (2021).
  • O álbum tem participações de amigos como Chico Correa, Bruno Berle, Iara Rennó e Tuyo, além de Maíra Morena co-produzindo junto com João e Jadsa. 
  • O nome do disco faz referência ao município baiano de Vera Cruz, onde Jadsa cresceu. Por acaso, “Ilha de Vera Cruz” foi o primeiro nome do Brasil. “Todo mundo vai pesquisar Ilha de Vera Cruz e vai dar de cara na história. Acredito que a visão do Taxidermia nesse texto é tentar criar uma outra narrativa com o mesmo nome”, disse Jadsa num papo com a Noize.

Vera Cruz Island é um disco bem é eletrônico, e bastante experimental, mas não é isso o que mais chama a atenção quando se escuta o primeiro álbum do Taxidermia. Ele é basicamente um disco de MPB, de afrobeat. E até de pós-punk em alguns momentos, como no dub de No pain, na tecladeira da funkeada Mil sensations e no synthpop-samba-psicodélico de Glass eye – essa com vocais manipulados e sonoridade localizada num corredor que inclui de Kraftwerk a Black Future (primeira banda nacional que me veio à mente quando ouvi a combinação de batuques e espertezas de estúdio de muitas coisas do disco, vale citar). Ou na afro-oriental Autobatuque (“ela se toca/se ela se autobatucar, cutuca a mente/calmante”, diz a letra).

Mesmo com toda a ciência de estúdio e de composição que envolveu o disco (e os EPs anteriores), Vera Cruz valoriza totalmente o formato canção. Só que tudo vem renovado e repleto de novos detalhes, como na hipnótica Sangue escuro (melhor refrão do álbum) e no samba-quase-reggae Clarão azul, uma das faixas mais acústicas do disco, levada adiante por violão e bateria. Ou no batidão de Pureza. Por mais que seja experimental, o que chama mais atenção no som do Taxidermia é que tudo parece natural. E visual, como num som pensado mais para cinema e TV do que para rádio – é o que acontece em músicas como Tremedêra e no batidão Sangue fervendo, por exemplo. Ou na vinheta Segredo das folhas, uma ponte entre dois batidões na abertura do álbum, e uma surpresa quase jazzística-orquestral em Vera Cruz Island.

Nota: 8,5
Gravadora: Independente

Crítica

Ouvimos: Jehnny Beth – “You heartbreaker, you”

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Jehnny Beth (ex-Savages) retorna com o segundo disco solo, You heartbreaker, you: punk sombrio, art metal e letras viscerais sobre dor e obsessão.

RESENHA: Jehnny Beth (ex-Savages) retorna com o segundo disco solo, You heartbreaker, you: punk sombrio, art metal e letras viscerais sobre dor e obsessão.

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O segundo álbum solo de Jehnny Beth, ex-vocalista da banda punk Savages, não é para qualquer ouvido – talvez não seja nem para qualquer coração. Trata-se de um disco cheio de camadas musicais e emocionais, no qual Jehnny assume uma persona complexa, instável e que não tem a mínima necessidade de colocar um disclaimer a cada verso ou cada faixa. O som pode ser classificado como punk de terror, art metal, eletrônica apodrecida e distorcida – qualquer coisa que mexa com a imaginação de quem escuta, evitando classificações comuns.

Musicalmente, o som de You heartbreaker, you coloca Jehnny a meio caminho de Rollins Band e Nine Inch Nails – mas com emanações de Babes In Toyland. As três primeiras faixas, Broken rib, No good for people e Obsession, estabelecem o clima ameaçador, com vocais que vão do berro ao sussurro, e gritos que parecem entalar na garganta. Faixas como Out of my reach, Reality e Stop me now vibram mostrando um punk rock que não precisa ser rápido para manter o peso e a intensidade. I still believe, recheada de beats eletrônicos, abre com um baixo que já põe medo.

  • Ouvimos: Thistle. – It’s nice to see you, stranger (EP)
  • Ouvimos: Sprints – Letter to self

As letras de You heartbreaker, you são um caso à parte. Jehnny fala sobre relacionamentos abusivos e violentos (Broken rib), apagamentos fatais (“sou muito crítica / você não encontrou um modo de me matar ainda / eu ainda estou de pé”, vocifera em No good for people) e sobre dores, culpas, problemas que não são seus, e projeções bem estranhas das imagens de outras pessoas – tudo isso reunido na sombria e pesada I see your pain, que encerra o disco. Também encarna a mulher que passa por relacionamentos obsessivos, em faixas como Obsession e I still believe (“um dia nós os faremos acreditar em você e em mim juntos / até lá, ainda acreditarei em você e em mim, para sempre”). Em Reality, une hedonismo, menage à trois e autoestima cagada. Stop me now fala sobre reencontros que causam gatilhos e memórias doloridas.

High resolution sadness, a faixa mais ágil do disco, une sexo, bagunça emocional e isolamento, concluindo que “o mundo é uma máquina triste”. You heartbreaker, you dá ao/à ouvinte a estranha sensação de ter presenciado uma explosão de carro-bomba sem se dar conta de que estamos todos dentro dele.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10
Gravadora: Fiction Records
Lançamento: 29 de agosto de 2025

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Crítica

Ouvimos: Guma – “Virando noite”

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Trio recifense Guma mistura indie pop, tecnobrega, jovem guarda e ecos 80s em Virando noite, estreia festiva e cheia de balanço.

RESENHA: Trio recifense Guma mistura indie pop, tecnobrega, jovem guarda e ecos 80s em Virando noite, estreia festiva e cheia de balanço.

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O Guma é um trio recifense – Katarina Nápoles (voz), Carlos Filizola (guitarra e produção) e Caio Wallerstein (bateria) – que enxerga na dança, o melhor remédio. Virando noite, o disco de estreia do grupo, é um álbum de indie pop com ramificações no tecnobrega, no rock jovemguardista e até em estilhaços do rock nacional dos anos 1980.

Daria pra dizer que o Guma dá uma mirada numa espécie de Brat recifense, mas nesse ponto, o trio é mais discreto: falam de liberdade no pop-brega-funk O muro, lembram de ideias hedonistas que não saem da cabeça no reggae-rock safado Pecadinho e fazem um Love theme que soa como um desvio vaporwave dos discos de pop orquestral dos anos 1970, com guitarra, baixo, bateria, efeitos e voz declamada.

A vibe festeira de Virando noite ocupa todo o repertório, em faixas como o balanço rock-brega de Mozinho (com Bruna Alimonda) e Só quando lembro (com Uana), e a fanfarra de Novesfora, com teclados imitando metais e um clima que envolve até música cigana. Chegando perto do final, o grupo se aventura numa espécie de new wave recifense, Paraíso astral, que faz lembrar o Metrô (sim, a banda nacional dos anos 1980) e The Cure. E também no pop sonhador e quase psicodélico de Sonhar ou viver. Ouça correndo.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 4 de setembro de 2025.

  • Ouvimos: Mundo Livre S/A – Sessões Selo Sesc #15 (ao vivo)
  • Ouvimos: Jangada Pirata – Sal de casa
  • Ouvimos: Camaelônica – Eletrotropical

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Crítica

Ouvimos: Zac Farro – “Operator”

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RESENHA: Zac Farro (Paramore) lança Operator, disco que mistura soft rock 70s, yacht rock e indie-pop vintage, com letras sobre amor e falhas de comunicação.

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Em meio a todo o processo de lançamento de Ego death at a bachelorette party, o (agora sim!) novo disco solo de Hayley Williams, Zac Farro, baterista do Paramore – banda de Hayley, você deve saber – também lança álbum próprio. Operator traz o músico se rendendo à onda soft rock requentada, e igualmente surfando de pranchão no indie-pop, mas com cara vintage.

Quase tudo de Operator só existe porque houve músicos unindo rock leve, folk, soul, baladas e estilos afins nos anos 1970. Ou seja: basicamente Zac fez um disco de yacht rock extratexturizado, com boas composições, só que com cara cult. Faixas como Operator, o pop pré-disco Second chance, o pop pós-disco 1 e o decalque de Steely Dan Simple actions soam como se alguém achasse num armário os tapes de um disco pop dos anos 1970 que sairia por uma gravadora de fundo de quintal, mas acabou sendo engavetado.

De certa forma, esse clima meio cult meio pop já é algo que Hayley havia trazido para suas gravações recentes – o que acaba fazendo com que Operator soe como um outro lado da moeda de Ego death, só que com letras mais estranhas. Zac tende a observar assuntos como amor, paixões e perdas de forma bem própria, muitas vezes abordando tudo pelo viés das falhas de comunicação, das mensagens nunca enviadas e nem mesmo entendidas (a faixa-título diz coisas como “quando tentei ligar pra você, falei com a operadora / então você me retornou / foi muito mais tarde”).

Zac também faz baladinha de AM com vibe psicodélica em I need you, som robótico e solar em Gold days (uma canção no estilo “quando olho no espelho / estou ficando velho e acabado” na qual ele, nascido em 1990, admite que não consegue mais controlar o tempo) e uma espécie de pop kraftwerkiano em Sunday driving – uma música para dirigir, unindo estilhaços de rock, soul e reggae, com efeitos sonoros imitando carros que passam. Dá para dizer que Operator é um disco pop com energia de novelty record, aquela curiosidade bem humorada que faz bem aos ouvidos.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Congrats Records
Lançamento: 18 de julho de 2025.

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