Crítica
Ouvimos: Mundo Vídeo, “Noite de lua torta”

- Noite de lua torta é o primeiro álbum do Mundo Vídeo, banda/dupla carioca radicada em São Paulo, formada pelos compositores, instrumentistas e vocalistas Gael Sonkin e Vitor Terra.
- A lista de convidados do disco vai da cantora Ana Frango Elétrico (em Perto da praia) ao trapper Putodiparis (Amantes da paz). As faixas ainda recebem coros femininos gravados por artistas de várias pontas do cenário independente, como Gab Ferreira, Janine Prici e Carol Maia.
- O som de Noite de lua torta foi tirado a partir de performances ao vivo realizadas em diferentes contextos: a faceta eletrônica surgiu após um convite para um show em uma rave, o lado indie pop (predominante) surgiu após a adição das letras. Nomes como Tears for Fears, Tim Maia, Daft Punk e Lulu Santos são citados pela banda como referências do disco.
O Mundo Vídeo volta mostrando tudo o que estava por trás de seu último EP, A hora das revelações. O som eletrônico e experimental do disco volta com uma cara mais orgânica no álbum – ainda que programações e teclados apareçam aqui e ali, e deem o tom da dupla de faixas de abertura (Como você me vê e O que nos aproxima, uma continuando a outra), violões, guitarras e vocais bem arranjados surgem na cara do ouvinte durante a audição.
Na real, por mais que Gael Sonkin e Vitor Terra sejam uma dupla com várias referências robóticas, fica claro que o Mundo Vídeo é um projeto de rock. E de pós-punk. Mas numa onda experimental que permite a inclusão de uma música “psicodélica” de mais de sete minutos (No ritmo do amor, repleta de efeitos e samples, ganhando guitarras, teclados e um clima quase progressivo lá pela metade), uma canção que abre com violões lembrando Smiths e ganha aspecto techno depois (Crescendo juntos), um tecnohardcore (a curtinha O céu na sua mão) e uma boa confluência entre tecnopop e MPB (a feliz Perto da praia, gravada com Ana Frango Elétrico, e que lembra um encontro entre Lulu Santos, Moraes Moreira e pop anos 1990).
Mesmo no caso de Estádio vazio, uma peça basicamente ambient, a dupla equilibra sons acústicos e eletrônicos – cabendo até um timbre antigo de sintetizador no final. No restante do disco, um toque meio gótico domina a faixa-título; Longe da praia é a continuação r&b e hyperpop de Perto da praia; Tchau 2024 e Fantasmo soam como rock de rave. Tem ainda a crueza de Amante da paz, com o trapper Putodiparis, unindo sexo, drogas, destruição, tecnorock e um toque de Darryl Hall & John Oates. Resta saber como é a organização de tantos lados e facetas num show da dupla.
Nota: 8
Gravadora: Balaclava Records
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Crítica
Ouvimos: Why Bother? – “Case studies”

RESENHA: Em Case studies, o Why Bother? mistura punk, garage e psicodelia suja em faixas que soam como pesadelos gravados numa garagem assombrada.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Feel It Records
Lançamento: 3 de outubro de 2025
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Quarteto de Mason City, Iowa, o Why Bother? não faz jus ao nome: ouvir o som deles lá pela madrugada pode cortar o sono de qualquer ser humano. Isso porque basicamente Terry (voz, synth, mellotron), Speck (guitarra, vocais), Pamela (baixo) e Paul (bateria) fazem punk e garage rock de terror, com inspirações mais do que evidentes em The Damned, Ramones e na primeiríssima fase de Alice Cooper – o disco de estreia de Alice, Pretties for you (1969), é bastante citado ao longo da audição desse Case studies, novo álbum do grupo.
- Ouvimos: Intercourse – How I fell in love with the void
Se o papo é meter medo, o Why Bother? vai em frente: o disco novo, segundo a própria banda, foi inspirado em experiências fora do corpo e projeção astral. “Você encontrará essas pistas inseridas nas gravações? Talvez…”, confundem os quatro. Seja como for, o grupo se comporta como uma banda de garagem dos anos 1960 que teve seu som enfiado numa garrafa e jogado no mar, logo na faixa de abertura, Helen’s father (Has no heart) e na vira-lata There she was.
Na sequência, eles invadem a área do punk setentista + garage rock em In between the distance, I take back e na parede de ecos e ruídos de Destruction by design. Já Feeding the birds parece gravada perto de uma ribanceira, com direito a ruídos aterradores de pássaros no final. O Why Bother? também cai dentro da psicodelia suja, entre Alice Cooper e Pink Floyd, na tribal e hipnótica Still remain/Back in sleep paralysis, que tem seis minutos. E faz praticamente só barulho em The past makes me sasd / Behold! The great war of 12 realms.
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Crítica
Ouvimos: Sunn O))) – “Eternity’s pillars b/w Raise the chalice & Reverential” (EP)

RESENHA: O Sunn O))) estreia na Sub Pop com o EP Eternity’s pillars b/w Raise the chalice & Reverential, três faixas longas e cerimoniais de drone e noise-rock espiritualizado.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Sub Pop
Lançamento: 14 de outubro de 2025
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Poderia ser só um single, mas o Sunn O))), trevoso como ele só, decidiu iniciar sua estadia na Sub Pop com um EP de três longas faixas. O grupo-dupla de Seattle, que faz som barulhento por vocação (metal, drone e noise-rock são nomeclaturas comuns quando se fala de seu som), abre Eternity’s pillars b/w Raise the chalice & Reverential com uma sinfonia de distorções e microfonias, orquestrada quase como se fossem vários violoncelos, na tal faixa Eternity’s pillars, de quase 14 minutos e poucas notas, ocupando todo o lado A. Ainda no “poderia”: poderia ser até um tema regido por um maestro e executado numa sala de concerto sombria, mas é noise-rock cerimonial e esfumaçado.
- Ouvimos: Snooper – Worldwide
Tem um lado jazz e espiritualista na primeira faixa do EP: Eternity’s pillar era o nome de um programa apresentado pela guru jazzística Alice Coltrane nos anos 1980, e que falava sobre viagens astrais, vida fora da matéria e outros assuntos afins – e o Sunn O))) conta que usou o nome (no plural) por causa da abordagem transcendental de Alice na música. Pouca coisa mais curtinhas (7 e 8 minutos, respectivamente), Raise the chalice e Reverential vão na mesma; homenageiam, respectivamente, o falecido vocalista de hardcore Ron Guardipee e “aqueles que vieram antes de nós com os fardos mais pesados”. Basicamente é a mesma sinfonia distorcida, com poucas variações, especial para quem gosta de ruído mântrico.
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Crítica
Ouvimos: Guitar – “We’re headed of the lake”

RESENHA: Segundo álbum do Guitar mistura slacker rock e grunge com ruído, lirismo caótico e ecos de Pavement, Sonic Youth e Guided by Voices.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Julia’s War
Lançamento: 10 de outubro de 2025
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Um tempo atrás entrevistamos o cantor e apresentador China, e ele contou que mudou de nome artístico para Chinaina porque, ao buscar suas próprias músicas nas plataformas digitais, esbarrava em montes de xarás. Agora imagine o que sobra para uma banda chamada… Guitar. Mas vá lá, abusando da sorte em tempos de duelo entre buscadores e IA, esse grupo norte-americano liderado por um multi-instrumentista chamado Saia Kuli pode acabar fazendo com o slacker rock algo próximo do que várias bandas andaram fazendo recentemente com o shoegaze.
We’re headed for the lake, segundo álbum do Guitar – e primeiro pelo selo Julia’s War – basicamente opera naquele encontro entre o slacker e o grunge, que fez com que o Pavement acabasse se tornando uma influência enorme do Nirvana no álbum In utero (1993). É rock com mumunhas folk e guitarrísticas, com faixas que provavelmente surgiram no violão como quaisquer outras, mas que ganham ruídos, efeitos, partes 1, 2 e 3, e vibe intensa.
- Ouvimos: Rocket – R is for rocket
Na abertura, A+ for the rotting team até tem uma bateria que só menciona o ritmo no começo – mas ganha peso na sequência. E descortina uma série de punk-rocks maníacos (Every day without fail, A toast to Tovarich), além de sons que aludem tanto a Pavement quanto a Sonic Youth e Beat Happening (Office clots, o falso folk de Pinwheel, a balada fake de Chance to win) e até coisas que lembram um emo selvagem, ou um power pop envolto em sombras. Este é o caso dos segmentos diferentes de Cornerland, das bases circulares de The chicks just showed up, e do noise rock de Pizza for everyone – ali, como em todo o álbum, tem muito também de Guides By Voices e até de Velvet Undeground.
As letras do Guitar, vale afirmar, são o tipo de poesia que você vai ficar lendo milhares de vezes tentando achar algum sentido – e cativam justamente por terem esse fluxo meio maluco de consciência. Vá lá que alguns títulos de músicas (como Office clots, “coágulos de escritório”) pedem algo mais sangrento, ou mais direto, e isso pode causar algumas decepções no decorrer do álbum. Parece em alguns momentos que Saia está contando uma história com começo, meio e fim que passa por todas as letras. E que consiste basicamente de ordens militares, ou de situações nas quais um ser humano desesperado tenta achar algum sentido. Loucura (quase) lúcida.
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