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Crítica

Ouvimos: Felipe Aud, “Acumulado”

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Ouvimos: Felipe Aud, "Acumulado"
  • Acumulado é o primeiro álbum de Felipe Aud, designer, paulistano, 42 anos. Felipe sempre compôs e nunca havia gravado um disco – e como acumulou canções esse tempo todo, o título do disco só poderia ser este.
  • Na produção e nos arranjos, trabalharam Dustan Gallas e Junior Boca, conhecidos por colaborações com artistas como Céu, Otto, Barbara Eugênia, Tatá Aeroplano, Cidadão Instigado e outros.
  • Felipe define o disco como “MPB de garagem”. “Embora tenha as referências brasileiras tradicionais, também bebe no caldo do rock, do eletrônico, do pop e um pouco do cabaret, de um jeito simples e caseiro”, diz.

O material do disco de Felipe Aud vem realmente de um acúmulo de canções guardadas por vários anos. O filtro de Acumulado vem pela maneira enviesada e diferente que a MPB paulista tem de contar histórias e de encarar o próprio processo de fazer música – características que surgem no som dele.

É isso o que dá o tom em faixas como a crônica abolerada Caminhão passou (com os versos: “coração parou e nunca mais bateu/além da saudade de você e eu”), o dream-pop samba Era o que me entreteu e me levou pra além do céu, a balada folk-rock Ficou sim e o synth pop Eu fiquei pensando  – esta, por sinal a melhor do disco. Ou na abertura, Saturday night, um samba com cara de Jorge Ben, Gilberto Gil e Mundo Livre S/A. Em várias faixas, o uso de teclados lembra mais um músico solitário (tipo “fulano e seus teclados”) tentando animar uma festa, só que com canções introspectivas e existenciais, influenciadas tanto por jovem guarda quanto pelos cantautores da MPB e do folk.

Prosseguindo no disco, Habemus evoca uma mescla de Raul Seixas e Jupiter Maçã, só que com vocais graves, e letra quase meditativa. Vem vem vem, com letra repleta de questionamentos, é outra faixa que responde pelo lado mais eletrônico e dançante do disco. Felipe também traz um som simultaneamente pop e experimental para seu som, em faixas como o folk rock Pés de bumbo, a moda de viola blues Bem mais dentro da minha habitação e a sombria e psicodélica Inverno em comum.

Encerrando o álbum, vem a faixa-título – que lembra um histórico dos bastidores do repertório, das músicas que eram acumuladas e esperavam para sair. Provavelmente o material de Acumulado foi feito em momentos diferentes da vida de Felipe (ele conta que a maioria foi feita há mais de duas décadas), e tudo no disco parece carregado de histórias e memórias pessoais, reveladas em flashes distribuídos pelas letras.

Nota: 8,5
Gravadora: Independente

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Ouvimos: Why Bother? – “Case studies”

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Em Case studies, o Why Bother? mistura punk, garage e psicodelia suja em faixas que soam como pesadelos gravados numa garagem assombrada.

RESENHA: Em Case studies, o Why Bother? mistura punk, garage e psicodelia suja em faixas que soam como pesadelos gravados numa garagem assombrada.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Feel It Records
Lançamento: 3 de outubro de 2025

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Quarteto de Mason City, Iowa, o Why Bother? não faz jus ao nome: ouvir o som deles lá pela madrugada pode cortar o sono de qualquer ser humano. Isso porque basicamente Terry (voz, synth, mellotron), Speck (guitarra, vocais), Pamela (baixo) e Paul (bateria) fazem punk e garage rock de terror, com inspirações mais do que evidentes em The Damned, Ramones e na primeiríssima fase de Alice Cooper – o disco de estreia de Alice, Pretties for you (1969), é bastante citado ao longo da audição desse Case studies, novo álbum do grupo.

  • Ouvimos: Intercourse – How I fell in love with the void

Se o papo é meter medo, o Why Bother? vai em frente: o disco novo, segundo a própria banda, foi inspirado em experiências fora do corpo e projeção astral. “Você encontrará essas pistas inseridas nas gravações? Talvez…”, confundem os quatro. Seja como for, o grupo se comporta como uma banda de garagem dos anos 1960 que teve seu som enfiado numa garrafa e jogado no mar, logo na faixa de abertura, Helen’s father (Has no heart) e na vira-lata There she was.

Na sequência, eles invadem a área do punk setentista + garage rock em In between the distance, I take back e na parede de ecos e ruídos de Destruction by design.Feeding the birds parece gravada perto de uma ribanceira, com direito a ruídos aterradores de pássaros no final. O Why Bother? também cai dentro da psicodelia suja, entre Alice Cooper e Pink Floyd, na tribal e hipnótica Still remain/Back in sleep paralysis, que tem seis minutos. E faz praticamente só barulho em The past makes me sasd / Behold! The great war of 12 realms.

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Ouvimos: Sunn O))) – “Eternity’s pillars b/w Raise the chalice & Reverential” (EP)

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O Sunn O))) estreia na Sub Pop com o EP Eternity’s pillars b/w Raise the chalice & Reverential, três faixas longas e cerimoniais de drone e noise-rock espiritualizado.

RESENHA: O Sunn O))) estreia na Sub Pop com o EP Eternity’s pillars b/w Raise the chalice & Reverential, três faixas longas e cerimoniais de drone e noise-rock espiritualizado.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Sub Pop
Lançamento: 14 de outubro de 2025

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Poderia ser só um single, mas o Sunn O))), trevoso como ele só, decidiu iniciar sua estadia na Sub Pop com um EP de três longas faixas. O grupo-dupla de Seattle, que faz som barulhento por vocação (metal, drone e noise-rock são nomeclaturas comuns quando se fala de seu som), abre Eternity’s pillars b/w Raise the chalice & Reverential com uma sinfonia de distorções e microfonias, orquestrada quase como se fossem vários violoncelos, na tal faixa Eternity’s pillars, de quase 14 minutos e poucas notas, ocupando todo o lado A. Ainda no “poderia”: poderia ser até um tema regido por um maestro e executado numa sala de concerto sombria, mas é noise-rock cerimonial e esfumaçado.

Tem um lado jazz e espiritualista na primeira faixa do EP: Eternity’s pillar era o nome de um programa apresentado pela guru jazzística Alice Coltrane nos anos 1980, e que falava sobre viagens astrais, vida fora da matéria e outros assuntos afins – e o Sunn O))) conta que usou o nome (no plural) por causa da abordagem transcendental de Alice na música. Pouca coisa mais curtinhas (7 e 8 minutos, respectivamente), Raise the chalice e Reverential vão na mesma; homenageiam, respectivamente, o falecido vocalista de hardcore Ron Guardipee e “aqueles que vieram antes de nós com os fardos mais pesados”. Basicamente é a mesma sinfonia distorcida, com poucas variações, especial para quem gosta de ruído mântrico.

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Crítica

Ouvimos: Guitar – “We’re headed of the lake”

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Segundo álbum do Guitar mistura slacker rock e grunge com ruído, lirismo caótico e ecos de Pavement, Sonic Youth e Guided by Voices.

RESENHA: Segundo álbum do Guitar mistura slacker rock e grunge com ruído, lirismo caótico e ecos de Pavement, Sonic Youth e Guided by Voices.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Julia’s War
Lançamento: 10 de outubro de 2025

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Um tempo atrás entrevistamos o cantor e apresentador China, e ele contou que mudou de nome artístico para Chinaina porque, ao buscar suas próprias músicas nas plataformas digitais, esbarrava em montes de xarás. Agora imagine o que sobra para uma banda chamada… Guitar. Mas vá lá, abusando da sorte em tempos de duelo entre buscadores e IA, esse grupo norte-americano liderado por um multi-instrumentista chamado Saia Kuli pode acabar fazendo com o slacker rock algo próximo do que várias bandas andaram fazendo recentemente com o shoegaze.

We’re headed for the lake, segundo álbum do Guitar – e primeiro pelo selo Julia’s War – basicamente opera naquele encontro entre o slacker e o grunge, que fez com que o Pavement acabasse se tornando uma influência enorme do Nirvana no álbum In utero (1993). É rock com mumunhas folk e guitarrísticas, com faixas que provavelmente surgiram no violão como quaisquer outras, mas que ganham ruídos, efeitos, partes 1, 2 e 3, e vibe intensa.

  • Ouvimos: Rocket – R is for rocket

Na abertura, A+ for the rotting team até tem uma bateria que só menciona o ritmo no começo – mas ganha peso na sequência. E descortina uma série de punk-rocks maníacos (Every day without fail, A toast to Tovarich), além de sons que aludem tanto a Pavement quanto a Sonic Youth e Beat Happening (Office clots, o falso folk de Pinwheel, a balada fake de Chance to win) e até coisas que lembram um emo selvagem, ou um power pop envolto em sombras. Este é o caso dos segmentos diferentes de Cornerland, das bases circulares de The chicks just showed up, e do noise rock de Pizza for everyone – ali, como em todo o álbum, tem muito também de Guides By Voices e até de Velvet Undeground.

As letras do Guitar, vale afirmar, são o tipo de poesia que você vai ficar lendo milhares de vezes tentando achar algum sentido – e cativam justamente por terem esse fluxo meio maluco de consciência. Vá lá que alguns títulos de músicas (como Office clots, “coágulos de escritório”) pedem algo mais sangrento, ou mais direto, e isso pode causar algumas decepções no decorrer do álbum. Parece em alguns momentos que Saia está contando uma história com começo, meio e fim que passa por todas as letras. E que consiste basicamente de ordens militares, ou de situações nas quais um ser humano desesperado tenta achar algum sentido. Loucura (quase) lúcida.

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