Crítica
Ouvimos: Dora Morelenbaum, “Pique”

- Pique é o primeiro álbum solo de Dora Morelenbaum, lançamento da Coala Records no Brasil e do selo Mr Bongo no resto do mundo. A produção é de Ana Frango Elétrico, com co-produção de Dora.
- Dora teve como letristas nas canções do álbum Zé Ibarra (com quem tocava no grupo Bala Desejo) e Tom Veloso, além de compor algumas músicas sozinha (como o instrumental VW blue). O álbum foi feito em cerca de um ano e gravado em pouco mais de uma semana (fonte: O Globo).
- A banda que tocou com Dora inclui músicos como Sérgio Machado (bateria), Alberto Continentino (baixo), Luiz Otávio (teclados) e Guilherme Lirio (guitarra). Em Essa confusão, Dora fez arranjos de cordas com o pai, Jaques Morelenbaum.
Estreando solo com Pique, Dora Morelenbaum surge com um disco de MPB clássica – no sentido de que, se uma banda tentar dar sua cara às influências de Led Zeppelin, Beatles e Rolling Stones, vai flertar com o rock clássico. O repertório do álbum de Dora não surgiria sem visitas à Gal Costa do fim dos anos 1970 – em especial a Gal pop e soul de Caras e bocas, de 1977. Igualmente não surgiria sem lembranças do Roberto Carlos da fase soul, ou do Erasmo Carlos do começo dos anos 1970, ou do violão de Gilberto Gil.
Tudo isso vai aparecendo aos poucos como referência em Pique, um disco cheio de estilo, em faixas como o soul Não vou te esquecer, a poderosa e estradeira Venha comigo (de Sophia Chablau, com os versos “venha comigo/sou seu amigo/entre no meu carro/fume um cigarro”, num imaginário que une Roberto e Erasmo) e o tom 1979/1980 de Sim não, numa onda que faz recordar Marina Lima no começo dos anos 1980. Essa confusão, por sua vez, une soul e jazz, e tem um arranjo de cordas desconcertante – e a abertura alude por questão de segundos a Sucesso aqui vou eu, de Rita Lee.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
Em algumas faixas da estreia de Dora, parece que a ideia é chegar um pouco perto da produção de poucos canais dos anos 1970. É o que rola em Nem te procurar, no encerramento do disco, vintage na forma, apesar de ter peso de gravação de 2024. Tem jazz-fusion-MPB instrumental oitentista em VW blue, (cujo título brinca com o Wolkswagen blue, música de 1969 de Gilberto Gil), um soul com tom ligeiramente reggae em A melhor saída, e um balanço com piano Rhodes que leva adiante Talvez (As canções). No fim das contas, um disco de MPB de quem ouviu muita MPB, e ouviu tudo com cabeça de produtora.
Nota: 8
Gravadora: Coala Records
Crítica
Ouvimos: Why Bother? – “Case studies”

RESENHA: Em Case studies, o Why Bother? mistura punk, garage e psicodelia suja em faixas que soam como pesadelos gravados numa garagem assombrada.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Feel It Records
Lançamento: 3 de outubro de 2025
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
Quarteto de Mason City, Iowa, o Why Bother? não faz jus ao nome: ouvir o som deles lá pela madrugada pode cortar o sono de qualquer ser humano. Isso porque basicamente Terry (voz, synth, mellotron), Speck (guitarra, vocais), Pamela (baixo) e Paul (bateria) fazem punk e garage rock de terror, com inspirações mais do que evidentes em The Damned, Ramones e na primeiríssima fase de Alice Cooper – o disco de estreia de Alice, Pretties for you (1969), é bastante citado ao longo da audição desse Case studies, novo álbum do grupo.
- Ouvimos: Intercourse – How I fell in love with the void
Se o papo é meter medo, o Why Bother? vai em frente: o disco novo, segundo a própria banda, foi inspirado em experiências fora do corpo e projeção astral. “Você encontrará essas pistas inseridas nas gravações? Talvez…”, confundem os quatro. Seja como for, o grupo se comporta como uma banda de garagem dos anos 1960 que teve seu som enfiado numa garrafa e jogado no mar, logo na faixa de abertura, Helen’s father (Has no heart) e na vira-lata There she was.
Na sequência, eles invadem a área do punk setentista + garage rock em In between the distance, I take back e na parede de ecos e ruídos de Destruction by design. Já Feeding the birds parece gravada perto de uma ribanceira, com direito a ruídos aterradores de pássaros no final. O Why Bother? também cai dentro da psicodelia suja, entre Alice Cooper e Pink Floyd, na tribal e hipnótica Still remain/Back in sleep paralysis, que tem seis minutos. E faz praticamente só barulho em The past makes me sasd / Behold! The great war of 12 realms.
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Crítica
Ouvimos: Sunn O))) – “Eternity’s pillars b/w Raise the chalice & Reverential” (EP)

RESENHA: O Sunn O))) estreia na Sub Pop com o EP Eternity’s pillars b/w Raise the chalice & Reverential, três faixas longas e cerimoniais de drone e noise-rock espiritualizado.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Sub Pop
Lançamento: 14 de outubro de 2025
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
Poderia ser só um single, mas o Sunn O))), trevoso como ele só, decidiu iniciar sua estadia na Sub Pop com um EP de três longas faixas. O grupo-dupla de Seattle, que faz som barulhento por vocação (metal, drone e noise-rock são nomeclaturas comuns quando se fala de seu som), abre Eternity’s pillars b/w Raise the chalice & Reverential com uma sinfonia de distorções e microfonias, orquestrada quase como se fossem vários violoncelos, na tal faixa Eternity’s pillars, de quase 14 minutos e poucas notas, ocupando todo o lado A. Ainda no “poderia”: poderia ser até um tema regido por um maestro e executado numa sala de concerto sombria, mas é noise-rock cerimonial e esfumaçado.
- Ouvimos: Snooper – Worldwide
Tem um lado jazz e espiritualista na primeira faixa do EP: Eternity’s pillar era o nome de um programa apresentado pela guru jazzística Alice Coltrane nos anos 1980, e que falava sobre viagens astrais, vida fora da matéria e outros assuntos afins – e o Sunn O))) conta que usou o nome (no plural) por causa da abordagem transcendental de Alice na música. Pouca coisa mais curtinhas (7 e 8 minutos, respectivamente), Raise the chalice e Reverential vão na mesma; homenageiam, respectivamente, o falecido vocalista de hardcore Ron Guardipee e “aqueles que vieram antes de nós com os fardos mais pesados”. Basicamente é a mesma sinfonia distorcida, com poucas variações, especial para quem gosta de ruído mântrico.
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
Crítica
Ouvimos: Guitar – “We’re headed of the lake”

RESENHA: Segundo álbum do Guitar mistura slacker rock e grunge com ruído, lirismo caótico e ecos de Pavement, Sonic Youth e Guided by Voices.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Julia’s War
Lançamento: 10 de outubro de 2025
- Quer receber nossas descobertas musicais direto no e-mail? Assine a newsletter do Pop Fantasma e não perca nada.
Um tempo atrás entrevistamos o cantor e apresentador China, e ele contou que mudou de nome artístico para Chinaina porque, ao buscar suas próprias músicas nas plataformas digitais, esbarrava em montes de xarás. Agora imagine o que sobra para uma banda chamada… Guitar. Mas vá lá, abusando da sorte em tempos de duelo entre buscadores e IA, esse grupo norte-americano liderado por um multi-instrumentista chamado Saia Kuli pode acabar fazendo com o slacker rock algo próximo do que várias bandas andaram fazendo recentemente com o shoegaze.
We’re headed for the lake, segundo álbum do Guitar – e primeiro pelo selo Julia’s War – basicamente opera naquele encontro entre o slacker e o grunge, que fez com que o Pavement acabasse se tornando uma influência enorme do Nirvana no álbum In utero (1993). É rock com mumunhas folk e guitarrísticas, com faixas que provavelmente surgiram no violão como quaisquer outras, mas que ganham ruídos, efeitos, partes 1, 2 e 3, e vibe intensa.
- Ouvimos: Rocket – R is for rocket
Na abertura, A+ for the rotting team até tem uma bateria que só menciona o ritmo no começo – mas ganha peso na sequência. E descortina uma série de punk-rocks maníacos (Every day without fail, A toast to Tovarich), além de sons que aludem tanto a Pavement quanto a Sonic Youth e Beat Happening (Office clots, o falso folk de Pinwheel, a balada fake de Chance to win) e até coisas que lembram um emo selvagem, ou um power pop envolto em sombras. Este é o caso dos segmentos diferentes de Cornerland, das bases circulares de The chicks just showed up, e do noise rock de Pizza for everyone – ali, como em todo o álbum, tem muito também de Guides By Voices e até de Velvet Undeground.
As letras do Guitar, vale afirmar, são o tipo de poesia que você vai ficar lendo milhares de vezes tentando achar algum sentido – e cativam justamente por terem esse fluxo meio maluco de consciência. Vá lá que alguns títulos de músicas (como Office clots, “coágulos de escritório”) pedem algo mais sangrento, ou mais direto, e isso pode causar algumas decepções no decorrer do álbum. Parece em alguns momentos que Saia está contando uma história com começo, meio e fim que passa por todas as letras. E que consiste basicamente de ordens militares, ou de situações nas quais um ser humano desesperado tenta achar algum sentido. Loucura (quase) lúcida.
- Gostou do texto? Seu apoio mantém o Pop Fantasma funcionando todo dia. Apoie aqui.
- E se ainda não assinou, dá tempo: assine a newsletter e receba nossos posts direto no e-mail.
- Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
- Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
- Notícias8 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
- Cinema8 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
- Videos8 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
- Cultura Pop7 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
- Cultura Pop9 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
- Cultura Pop8 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?